EXPANSÃO TERRITORIAL PORTUGUESA

 No fim do século XVI, a população colonial da América portuguesa espalhava-se de forma descontínua pela extensa costa, desde Natal até Cananeia. Nessa época, a vila de São Paulo de Piratininga (futura cidade de São Paulo) era uma exceção, pois situava-se no interior do território.

A partir de meados do século XVII, a ocupação territorial ganhou força em direção ao interior e ao litoral norte (do atual estado do Rio Grande do Norte até o atual estado do Amapá). Essa ocupação resultou de ações realizadas por diferentes grupos, entre os quais podemos destacar:

• exploradores em expedições militares – foram patrocinados pelo governo para expulsar estrangeiros que ocupavam partes do território;

• bandeirantes – percorreram o sertão aprisionando indígenas e escravos africanos fugidos ou procurando metais preciosos;

• jesuítas missionários – fundaram aldeamentos para catequizar os indígenas e explorar economicamente as riquezas naturais do sertão;

• criadores de gado – tiveram seus rebanhos e fazendas “empurrados” para o interior do território em função de interesses socioeconômicos.

OBSERVE A EVOLUÇÃO TERRITORIAL NOS MAPAS ABAIXO:

 

AS BANDEIRAS

A partir do século XVII, foram organizadas expedições patrocinadas apenas por particulares, chamadas bandeiras. A maioria das bandeiras partiu da vila de São Paulo em direção ao interior do território.
As bandeiras eram compostas, em geral, de indivíduos brancos, mestiços e indígenas. O responsável por sua organização e por seu comando era chamado de armador.
Os historiadores costumam distinguir três tipos de bandeirismo:
• de apresamento – dedicava-se à captura de indígenas para vendê-los como escravos;
• sertanismo de contrato – dedicava-se ao combate de rebeliões indígenas e à captura de escravos negros fugitivos, prestando serviços à classe dominante da colônias;
• de prospecção – dedicava-se à procura de metais preciosos.

Bandeiras de apresamento
As bandeiras de apresamento tornaram-se um importante negócio durante o período do domínio holandês no Brasil (1637-1654). Nessa época, os holandeses conquistaram algumas colônias portuguesas fornecedoras de escravos negros na África. Com isso, desmontaram o tráfico negreiro organizado pelos portugueses e só permitiram a vinda de escravos para as áreas sob domínio holandês. Como consequência, a mão de obra escrava tornou-se escassa nas regiões da América portuguesa.
Expedições de bandeirantes passaram, então, a capturar indígenas para suprir a carência de mão de obra nessas regiões. Muitas bandeiras de apresamento partiam da vila de São Paulo, assim como as bandeiras de prospecção. Por isso, São Paulo ficou conhecida como a “terra dos bandeirantes”.
De modo geral, a concentração do bandeirismo nessa região está vinculada ao declínio do negócio açucareiro, quando a população pobre da vila de São Vicente dirigiu-se para São Paulo. Fugindo da miséria e buscando alternativas para sobreviver, parte dessa população se dedicou ao apresamento de indígenas e à sua venda como escravos.
Os “negros da terra” — antiga expressão que os portugueses davam aos indígenas — eram forçados a trabalhar nas lavouras que abasteciam as vilas e povoações do litoral e também no transporte de mercadorias que circulavam entre o planalto e o litoral.
A princípio, os bandeirantes capturavam indígenas em regiões próximas de São Paulo. Depois, foram avançando para regiões mais distantes.
Até meados do século XVII, os bandeirantes paulistas atacavam, inclusive, os aldeamentos fundados pelos jesuítas espanhóis, espalhados ao longo dos rios Paraguai e Paraná, nos atuais estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, e também alguns situados nos atuais Paraguai e Argentina. Entre essas expedições,
ficaram mais conhecidas as comandadas por Raposo Tavares e Manoel Preto.
Em reação aos constantes ataques dos bandeirantes, os padres jesuítas obtiveram autorização do rei da Espanha para munir os indígenas com armas de fogo e fazê-los defender as missões. Desse modo, as missões conseguiram conter os bandeirantes por algum tempo.

Sertanismo de contrato
As bandeiras que se dedicavam ao chamado sertanismo de contrato partiam, em geral, de Salvador, Recife e Olinda. Elas foram empreendidas principalmente após a expulsão dos holandeses do Brasil, quando o tráfico negreiro foi reorganizado e a escravização indígena perdeu intensidade.
A partir desse momento, autoridades governamentais, senhores de engenho e grandes pecuaristas passaram a contratar os serviços dos bandeirantes como seu “braço armado” em situações específicas, fosse para reprimir rebeliões indígenas, fosse para capturar escravos fugitivos, especialmente aqueles reunidos em quilombos.
Desse modo, os bandeirantes acabaram sendo responsáveis pelo massacre de milhares de indígenas, despovoando amplas áreas do interior do território, muitas das quais foram posteriormente ocupadas por fazendas de gado.

Bandeiras de prospecção

Na segunda metade do século XVII, o governo português enfrentou uma crise financeira, em decorrência de fatores como as invasões holandesas. Assim, passou a estimular o bandeirismo de prospecção por meio de recompensas materiais, promessas de títulos e honrarias e até perdão de eventuais crimes cometidos.

Animados com as pequenas quantidades de ouro encontradas no início do século XVII em regiões das atuais cidades de São Paulo, Curitiba e Paranaguá, os bandeirantes decidiram entrar pelo sertão em busca de jazidas mais abundantes. Com esse propósito específico, a bandeira liderada por Fernão Dias Pais — que partiu de São Paulo em 1674 em direção ao interior do atual estado de Minas Gerais — passou 

O caminho percorrido pela bandeira de Fernão Dias foi seguido depois por outros bandeirantes, que acabaram encontrando ouro em Minas Gerais, no final do século XVII.




OS JESUÍTAS

Desde que chegaram ao Brasil Colônia, em 1549, os jesuítas dedicaram-se à catequização dos indígenas. Para realizar essa tarefa, eles fundaram aldeamentos (ou missões) em terras concedidas pelo
governo.
Nos aldeamentos, os jesuítas ensinavam a doutrina católica, a língua portuguesa e outros aspectos da cultura europeia. Nesse processo, combatiam costumes e tradições indígenas que entrassem em choque com o cristianismo — isso incluía, por exemplo, a poligamia, a nudez e a crença nos rituais
dos pajés.
Em geral, a rotina diária dos aldeamentos começava bem cedo, com a cerimônia da missa. Depois, alguns indígenas iam trabalhar nas plantações coletivas, e outros nas atividades artesanais. Enquanto os adultos trabalhavam para suprir as necessidades materiais da aldeia, as crianças aprendiam a ler, escrever e contar, e também tinham aulas de moral e religião. Os jesuítas pensavam que as crianças assimilariam os novos hábitos culturais com mais facilidade do que os adultos.
Além disso, nas missões do norte da colônia, os jesuítas faziam com que os indígenas trabalhassem na extração de riquezas naturais, conhecidas como drogas do sertão (guaraná, pimenta, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais), cuja venda proporcionava bons lucros aos padres da Companhia de Jesus.
Por tudo isso, as missões jesuíticas tornaram-se o alvo predileto das bandeiras de apresamento, pois lá os bandeirantes encontravam o chamado índio ladino, isto é, aculturado e conhecedor de ofícios que interessavam ao comprador de escravos.


A PECUÁRIA

A pecuária desempenhou importante papel na economia colonial. Além de abastecer a população de carne e couro, os animais serviam como força motriz e meio de transporte.

Ao contrário da produção de açúcar, voltada para o mercado externo, a pecuária atendia basicamente ao mercado interno. Assim, a pecuária escapava aos padrões predominantes que caracterizavam o sistema colonial mercantilista. Na prática, ela era pouco incentivada pela metrópole porque destinava à exportação apenas uma parte do couro produzido desde o Maranhão até a Bahia.

Pretendendo incentivar a lucrativa produção açucareira — cujos engenhos estendiam-se pelas áreas litorâneas —, a administração portuguesa chegou a proibir, em 1701, a criação de gado em uma faixa de 80 quilômetros a partir da costa. Os pecuaristas foram, então, obrigados a instalar suas fazendas de gado no interior, em áreas que não eram apropriadas à agricultura exportadora. Dessa forma, no período colonial, a pecuária desenvolveu-se principalmente em duas grandes zonas criatórias: a caatinga no nordeste e as campinas do sul.

A MINERAÇÃO

Ao final do domínio espanhol (1640), Portugal estava mergulhado em grave crise econômica. Os preços do açúcar haviam caído, devido, sobretudo, à concorrência da produção antilhana, que fez com que a oferta do produto aumentasse no mercado internacional.

Em busca de novas fontes de riqueza, o governo português revigorou o antigo sonho de encontrar ouro na América portuguesa. A data e o local dos primeiros achados não são conhecidos exatamente. Sabe-se apenas que as descobertas iniciais do ouro de aluvião nos vales dos rios das Mortes e Doce, na região de Minas Gerais, ocorreram entre os anos de 1693 e 1695.

ocupação do sertão

A notícia da descoberta de ouro espalhou-se rapidamente, e um grande número de pessoas dirigiu-se à região das minas. Além da população colonial, calcula-se que uma quantidade considerável de portugueses tenha emigrado do reino para a colônia em busca de ouro. Por contar com uma população relativamente pequena, o governo de Portugal lançou um decreto, em março de 1720, restringindo a emigração para o Brasil.

Com tanta gente chegando, a região passou por transformações. A corrida do ouro impulsionou o surgimento, em poucos anos, de vilas e cidades, como Vila Rica (atual Ouro Preto), Ribeirão do Carmo (atual Mariana), São João del Rei e Sabará.

A população de Minas Gerais continuou crescendo durante todo o “século do ouro” (1701-1800). Em 1786, calcula-se que havia na região aproximadamente 394 mil habitantes, que correspondiam a cerca de 15% da população total da colônia na época.

A riqueza das minas pertencia à Coroa portuguesa, que concedia datas (lotes) aos mineradores para a exploração do ouro. O trabalho nesses lotes era realizado por escravos, em locais denominados lavras. Percebendo no ouro a possibilidade de revigorar sua economia, o governo português organizou um rígido esquema administrativo para controlar a região mineradora.

Intendência das Minas

O principal órgão dessa estrutura administrativa portuguesa era a Intendência das Minas. Criado em 1702, esse órgão era responsável por tarefas como:

• distribuição de datas (lotes) para a exploração do ouro;

• fiscalização da atividade mineradora;

• julgamento de questões referentes ao desenvolvimento dessa atividade;

• cobrança de impostos pela exploração das jazidas, principalmente.

Os mineradores deviam pagar ao governo português um tributo correspondente a um quinto (20%) de qualquer quantidade de metal extraído. Com o tempo, a expressão quinto passou a designar popularmente o próprio imposto.

casas de Fundição

No início da exploração mineira, o ouro em pó ou em pepitas circulava livremente pela região das minas. Isso dificultava a cobrança de impostos sobre o ouro extraído e favorecia o contrabando.

Para resolver esse problema, o governo português proibiu a circulação do ouro em pó e em pepitas e criou, por volta de 1720, as Casas de Fundição. Nesses locais, todo o ouro deveria ser fundido e transformado em barras. Ao recebê-lo, as Casas de Fundição retirariam a parte correspondente ao imposto cobrado pela Fazenda Real (Coroa). O restante receberia um selo oficial que comprovaria o pagamento do quinto, podendo ser legalmente negociado. Era o ouro quintado, isto é, do qual já se havia extraído a quinta parte.

Quem fosse encontrado portando ouro em pó ou barras não quintadas poderia sofrer penas severas, que iam desde a perda de todos os bens até o exílio perpétuo em colônias portuguesas na África.

Fonte da imagem: https://issoeunaosabia.wordpress.com/2012/05/25/santo-do-pau-oco/ 

"Santo do pau oco" é uma expressão popular que se refere a pessoas dissimuladas ou mentirosasA origem da expressão está relacionada com o contrabando de ouro e pedras preciosas durante o período colonial do Brasil.


 



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