REVOLTAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA
A situação de pobreza e abandono em que vivia a população do campo sob a República Oligárquica fez com que milhares de pessoas buscassem nas cidades, principalmente nas capitais, melhores condições de vida. Porém, essas pessoas encontraram ainda mais dificuldades nos centros urbanos e acabaram numa situação de miséria extrema.
Em outras ocasiões, a situação de miséria enfrentada pela população rural levou muitas dessas pessoas a buscar amparo de líderes místicos que se diziam porta-vozes de Deus. Surgiram, assim, os movimentos messiânicos em estados como Bahia, Paraná e Santa Catarina, assunto que abordaremos a seguir.
CANUDOS, na Bahia
Nascido no Ceará, Antônio Vicente Maciel (1828-1897) começou a perambular pelo sertão da Bahia por volta de 1870, pregando o amor a Deus e dando conselhos às pessoas, que começaram a acompanhá-lo em suas peregrinações, chamando-o de Antônio Conselheiro. Em 1893, fundou um povoado conhecido como Arraial de Belo Monte em uma fazenda abandonada da região de canudos, no interior da Bahia, às margens do rio Vaza-Barris.
A seus seguidores, Antônio Conselheiro criticava a república e elogiava a monarquia, prometendo o retorno do rei de Portugal, dom Sebastião (morto no norte da África em 1578), que iria restaurar a ordem pública. Atraídas por sua pregação, dezenas de milhares de sertanejos fixaram-se na região, onde passaram a viver da agricultura de subsistência.
Acusada de monarquista, a comunidade começou logo a inquietar a oligarquia estadual, o governo federal e a Igreja – apesar de suas crenças, Antônio Conselheiro não era um religioso, o que ameaçava as hierarquias católicas.
Para reprimi-la, em 1896 o governo enviou a Canudos uma expedição militar com pouco mais de cem homens. Fustigada pelos seguidores de Antônio Conselheiro, a improvisada tropa foi derrotada. Mais três expedições seriam enviadas até o final de 1897, quando, com mais de 8 mil soldados, o Exército sairia vitorioso.
A Guerra de Canudos, como o conflito ficou conhecido, deixou um saldo de aproximadamente 30 mil sertanejos mortos e foi acompanhada de perto pelo jornalista Euclides da Cunha, que posteriormente a descreveu no livro Os sertões.
CONTESTADO, entre Paraná e Santa Catarina
Outro importante movimento messiânico ocorreu na fronteira entre Paraná e Santa Catarina, em uma região contestada (disputada) pelos dois estados. Por isso, o movimento ficou conhecido como Contestado.
Era grande o número de sertanejos estabelecidos na região do Contestado que viviam da criação de gado e da extração de erva-mate e de madeira desde o século XVIII. Com o início da construção de uma ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul, em 1890, muitos deles foram desalojados dessas terras, perdendo também seu meio de vida.
Alguns conseguiram trabalho, sob duras condições, com os fazendeiros locais. Outros, a partir de 1908, começaram a trabalhar em duas empresas estadunidenses que ali passaram a atuar: a Brazil Railway, contratada pelo governo para terminar a construção da ferrovia que havia sido interrompida, e sua coligada Southern Brazil Lamber and Colonization, que herdou o direito de explorar e vender a madeira na faixa de terreno desapropriada ao longo dessa ferrovia.
Sem terra e famintos, os sertanejos do Contestado começaram a se organizar sob a liderança de um “monge” chamado João Maria. Após sua morte, seu lugar foi ocupado por outro “monge”, Miguel Lucena Boaventura, conhecido como José Maria.
José Maria reuniu mais de 20 mil sertanejos e fundou com eles alguns povoados que compunham a chamada Monarquia Celeste. Como em Canudos, a “monarquia” do Contestado tinha um governo próprio e normas igualitárias, não obedecendo às ordens das autoridades da República.
Os sertanejos do Contestado passaram a ser perseguidos por pessoas a mando dos coronéis-fazendeiros e dirigentes das empresas estrangeiras estabelecidas na região, com o apoio de tropas do governo. O objetivo era destruir a organização comunitária e expulsar os sertanejos das terras que ocupavam.
Em novembro de 1912, José Maria foi morto em combate e “santificado” pelos moradores da região. Seus seguidores, entretanto, criaram novos núcleos da Monarquia Celeste, que depois foram combatidos e destruídos por forças do Exército brasileiro.
Em 1916, os últimos núcleos foram arrasados por tropas de 7 mil homens armados de canhões, metralhadoras e até alguns aviões de bombardeio, pela primeira vez usados como arma de combate no Brasil.
Comentários
Postar um comentário