PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

 Antecedentes

A situação conflituosa do início do século No início do século XX, as relações entre diversos povos e governos da Europa estavam afetadas por conflitos ligados a rivalidades nacionais, disputas econômicas e ressentimentos políticos. Essas condições contribuíram para gerar, na Europa, um clima de tensão prolongada que culminou em um confronto belicoso sem precedentes.

Como era a primeira vez que uma guerra envolvendo as principais potências mundiais de sua época alcançava tal proporção, os historiadores passaram a chamar esse confronto, que ocorreu entre 1914 e 1918, de Primeira Guerra Mundial (ou Primeira Grande Guerra).

Imperialismo e nacionalismo

De acordo com historiadores e estudiosos do tema, os conflitos que favoreceram o clima belicoso entre as nações europeias podem ser enquadrados, de modo geral, como imperialistas e nacionalistas.

Disputas imperialistas

Rivalidades e disputas marcavam as relações entre os governos das grandes potências europeias, principalmente entre Alemanha, Inglaterra e França, no começo do século XX. Essa tensão resultava de disputas por territórios e mercados, tanto na Europa como fora dela, para manter ou ampliar os domínios desses países. Desde 1850, aproximadamente, com a expansão do capitalismo financeiro e monopolista, os empresários buscavam novos mercados para seus produtos. Isso levou os governos dos países industrializados europeus a disputar colônias na África e na Ásia. Ao mesmo tempo, o governo de cada país industrializado procurava dificultar a expansão econômica dos concorrentes, fechando seus mercados à importação de produtos similares aos nacionais e tentando impedir a expansão do império colonial dos rivais. No início do século XX, essa disputa econômica envolvia principalmente interesses ingleses e alemães.

Movimentos nacionalistas

Ao lado das disputas econômicas e por colônias, havia na Europa movimentos que catalisaram antigas rivalidades e ressentimentos, carregados de fervor patriótico. Esses movimentos pretendiam agrupar, sob um mesmo Estado, povos de matrizes étnico-culturais semelhantes, o que implicava um desejo de expansão territorial. Era o caso, por exemplo, de movimentos como os seguintes:

• pan-eslavismo – que buscava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental e era liderado, principalmente, pelo governo russo;

• pangermanismo – que lutava, por exemplo, pela anexação à Alemanha (Império Alemão) dos territórios da Europa Central onde viviam germânicos;

• revanchismo francês – que defendia a recuperação dos territórios da Alsácia-Lorena, região rica em minério de ferro e carvão que os franceses haviam sido obrigados a entregar aos alemães depois da derrota na Guerra Franco-Prussiana, em 1870, durante o processo de unificação da Alemanha.

Corrida armamentista e política de alianças

Esse clima de disputas e rivalidades deu origem à chamada paz armada. O que significava esse termo? Diante do risco de guerra, as principais potências da Europa iniciaram uma corrida armamentista para fortalecer seus exércitos e, ao mesmo tempo, evitar que uma debilidade militar precipitasse um ataque inimigo. Os governos daquelas potências também firmaram tratados de aliança entre si, com o objetivo de somar forças para enfrentar os rivais. Depois de negociações e tratados, a Europa, em 1907, ficou dividida em dois grandes blocos:

• Tríplice Aliança – formada inicialmente por Alemanha, Áustria-Hungria (ou Império Austro-Húngaro) e Itália;

• Tríplice Entente – formada inicialmente por Inglaterra, França e Rússia.

FONTE: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/triplice-entente.htm 

Posteriormente, ao longo da Primeira Guerra Mundial, essas alianças sofreram alterações. Conforme seus interesses, algumas forças acabaram mudando de lado. Foi o caso do governo da Itália, que em 1915 passou para o lado da Entente por ter recebido a promessa de compensações territoriais. 

O estopim da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e de sua esposa na cidade de Sarajevo, na Bósnia, em 28 de junho de 1914. O autor do crime foi o estudante Gavrilo Princip, que pertencia à organização secreta nacionalista Unidade ou Morte, também conhecida como Mão Negra, que tinha o apoio do governo sérvio. O assassinato de Francisco Ferdinando provocou a reação militar da Áustria-Hungria contra a Sérvia. Em razão da política de alianças, isso causou a entrada de outras nações no conflito.

Blocos de países

Ao longo dos quatro anos de duração da Primeira Guerra Mundial, dois blocos rivais de países se enfrentaram, com base nas alianças firmadas. De um lado, estavam Alemanha, Império Austro-Húngaro, Turquia e Bulgária (as duas últimas em 1914), além da Itália, que, como vimos, passou em 1915 para o lado da Entente. De outro, França, Inglaterra, Rússia, Bélgica (inicialmente neutra), Sérvia, Itália (a partir de 1915), Grécia, Japão e Estados Unidos (1917), entre outros. 

Era a primeira vez que ocorria uma guerra generalizada, envolvendo as principais potências de diversas regiões do planeta, embora as batalhas tenham acontecido principalmente no continente europeu. O governo do Brasil foi o único da América do Sul a entrar efetivamente nesse conflito, declarando guerra à Alemanha. Cooperando com os ingleses, patrulhou o Atlântico Sul e enviou médicos e aviadores à Europa.

Principais fases

Para organizar as interpretações a respeito da Primeira Guerra Mundial, estudiosos costumam dividir os conflitos em três fases.

• Primeira fase (1914-1915) – marcada pela intensa movimentação das forças beligerantes. Depois de uma rápida ofensiva das tropas alemãs em território francês, em setembro de 1914, os exércitos França organizaram uma contraofensiva, detendo o avanço germânico sobre Paris na chamada Batalha do Marne. A partir desse momento, nenhum dos lados conseguiu vitórias significativas, mantendo-se um equilíbrio de forças nas frentes de combate.

• Segunda fase (1915-1917) – a intensa movimentação de tropas da fase anterior foi substituída por uma guerra de trincheiras e desgastes, em que cada lado procurava garantir suas posições, evitando o avanço do inimigo. Foi um período extremamente duro para as tropas em conflito. Sob ataque intermitente do inimigo, os soldados guarneciam suas posições nas trincheiras, enfrentando frio, fome, chuva e barro.

• Terceira fase (1917-1918) – caracterizada pela entrada e saída de outros países na guerra. A Marinha alemã, utilizando submarinos, afundou navios de países tidos como neutros, alegando que transportavam alimentos e armas para os inimigos. Foi o caso, por exemplo, dos navios Lusitânia e Arábia, dos Estados Unidos, e do navio Paraná, do Brasil. Nessa fase da guerra, dois acontecimentos se destacaram: a entrada das forças dos Estados Unidos no conflito (6 de abril de 1917) e a saída dos exércitos da Rússia, devido ao início da Revolução de 1917 no país e à assinatura de um tratado de paz com a Alemanha (3 de março de 1918).

Fim do conflito

Com o apoio financeiro e material dado pelo governo dos Estados Unidos a partir de 1917, os recursos da Entente e de seus aliados tornaram-se muito superiores aos da Tríplice Aliança. Esse apoio foi decisivo para a vitória da Entente.

No início de 1918, as forças lideradas pela Alemanha já estavam isoladas e sem condições de sustentar os combates. Em 11 de novembro daquele ano, o governo alemão assinou o armistício, com condições bastante desvantajosas. Aceitou, por exemplo, retirar suas tropas de todos os territórios ocupados durante a guerra, pagar indenizações e entregar aos adversários materiais como canhões e metralhadoras.

Mulheres no trabalho industrial

A economia dos países que tomaram parte na Primeira Guerra Mundial foi direcionada para aumentar a produção dos artigos necessários à guerra, como armas, munições, veículos de transporte e tecidos para a confecção de uniformes militares. Como grande número de homens participava dos combates, considerável parcela de mulheres ingressou no mercado de trabalho, especialmente na Inglaterra, na França, na Itália e na Alemanha. Desse modo, as mulheres passaram a desempenhar funções que lhes eram incomuns, como motoristas de ônibus e caminhões, operadoras de máquinas e muitas outras atividades na indústria e no comércio. Além disso, terminada a guerra, em alguns desses países, as mulheres conseguiram ampliar a luta por seus direitos, conquistando, por exemplo, o direito de voto. Em 1918, as mulheres conquistaram esse direito na Inglaterra. No ano seguinte, em 1919, foi a vez das estadunidenses.

Fonte: https://www.buzzfeed.com/br/gabrielsanchez/fotos-mulheres-primeira-guerra-mundial

Duras imposições à Alemanha 

Após a rendição da Alemanha e de seus aliados, realizou-se no palácio de Versalhes, na França, de janeiro de 1919 a janeiro de 1920, uma série de conferências com a participação de representantes das 27 nações “vencedoras” do conflito. Lideradas pelos representantes dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, essas reuniões ficaram conhecidas como Conferência de Paz de Versalhes.

Durante a conferência, elaborou-se o Tratado de Versalhes, concluído em 28 de junho de 1919. Esse documento definiu os termos finais de paz com a Alemanha, pondo fim oficialmente à Primeira Guerra Mundial.

Uma de suas cláusulas (a chamada “cláusula de culpa”) determinou que a Alemanha era a principal responsável pelo conflito, razão pela qual os alemães sofreram as mais duras imposições. O Tratado de Versalhes estipulava, por exemplo, que a Alemanha deveria:

• restituir a região da Alsácia-Lorena à França;

• ceder outras regiões à Bélgica, à Dinamarca e à Polônia;

• entregar quase todos os seus navios mercantes à França, à Inglaterra e à Bélgica;

• pagar uma enorme indenização aos países vencedores;

• reduzir o poderio militar de seus exércitos, sendo proibida de constituir aviação militar.

Na Alemanha, a derrota no conflito foi acompanhada pela abdicação do cáiser Guilherme II, em novembro de 1918, e pela instauração da República de Weimar. Era o fim do Segundo Reich, período da história que teve início com a unificação alemã (1871) e terminou com o final da Primeira Guerra Mundial (1918). O conjunto de decisões impostas aos alemães provocou, em pouco tempo, uma intensa reação das forças políticas que se organizavam nesse país. Muitos alemães consideravam injustas, vingativas e humilhantes as condições do Tratado de Versalhes. Anos mais tarde, o ressentimento e o desejo de mudar essas condições motivariam o ressurgimento do nacionalismo alemão.

Liga das Nações

Em 28 de abril de 1919, os membros da Conferência de Paz de Versalhes aprovaram a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), atendendo à proposta do presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. Tendo como sede a cidade suíça de Genebra, a Liga das Nações deu início às suas atividades em janeiro de 1920. Integrada por países-membros de diversos continentes, sua principal missão seria agir como mediadora nos conflitos internacionais, procurando preservar a paz mundial.

Prosperidade dos Estados Unidos

Desde as últimas décadas do século XIX, a produção industrial estadunidense vinha se expandindo e seu campo de atuação econômica se ampliava para diferentes partes do mundo. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial na Europa, houve uma explosão do crescimento agrícola e industrial dos Estados Unidos.

Isso ocorreu porque, conservando-se o país, no início, em uma posição de neutralidade, seus produtores e empresários puderam abastecer as nações envolvidas no conflito, já que estas tinham sido obrigadas a redirecionar suas atividades econômicas. Além disso, enquanto as potências europeias concentravam seus esforços na guerra, os industriais dos EUA aproveitavam para ocupar e suprir mercados da Ásia e da América Latina que deixaram de ser atendidos pelos produtores europeus.

Ao final do conflito, os bancos e o governo dos Estados Unidos possuíam aproximadamente a metade de todo o ouro que circulava nos mercados financeiros internacionais, tornando-se credores da Europa arrasada. E, assim, esse país se projetou como grande potência econômica mundial.

Outdoor com propaganda do American Way of Life. A imagem apareceu na Life Magazine em 1937. Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/american-way-of-life.htm 

Em decorrência desse crescimento, os estadunidenses viveriam, durante quase toda a década de 1920, um período de euforia e prosperidade que ficou conhecido como “anos felizes”. Tal “felicidade” seria interrompida, porém, pela Crise de 1929.

Fonte do texto: Cotrim, Gilberto História global 3 / Gilberto Cotrim. -- 3. ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016. ADAPTADO.

Vídeo de apoio : 100 anos da Primeira Guerra Mundial.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=db6oP7AoS9E&t=196s 


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